segunda-feira, 9 de maio de 2011

A violência nossa de cada dia



Sebastião saiu de casa todo contente porque soube que hoje receberá um aumento de salário. A caminho do trabalho passou pela padaria, proseou um pouco com seu Augusto que lhe contou sobre o assalto que seu filho sofreu, quando vinha chegando em casa na noite anterior. Seu Sebastião aproveitou pra vomitar toda a sua indignação contra esses marginais que em vez de trabalharem, passam a vida a roubar inocentes, e que as autoridades nada fazem pra defender o cidadão. Mas apesar de toda ira que sentia ao saber que um pobre coitado tivera sido roubado, seu Sebastião, alem de senso de justiça, também mantinha a compaixão, e ficou todo entristecido quando a dona esfarrapada lhe pediu uma esmola, e pondo a mão no bolso furado viu que não tinha nem um tostão. E antes que o cansaço daquele dia lhe tirasse a coragem, ele passou na capela pra rezar um pai nosso e agradecer pelo pão, que com muito suor e lágrima conquistava todo dia, e não se dava ao luxo de desistir e nem esmorecia. E depois do dia duro e do salário merecido, vinha ele do trabalho quando um amigo chegado lhe convidou a base de grito, bem no meio da rua, dizendo que no boteco ao lado a primeira rodada era de graça e que o violeiro era bom. Seu Sebastião que não gosta de viola, mas é amante da cachaça, atravessou a rua como atravessava a vida, com os passos firmes de quem já não se surpreende com as voltas que o mundo dá. E foi lá, no meio da terceira rodada que seu Sebastião deu mais uma rasteira no destino. De arma na mão e olhar gelado, o carrasco não tinha mais que 17 anos, e ao ouvir o som dos disparos, sorria como se aquilo fosse música. Foi só no hospital que o velho Sebastião soube que tinha sido confundido com um homem que tinha agredido a esposa e era padrasto do rapaz, que disse ter cometido o engano por excesso de raiva e de pó.

                                                                           Imagem de Vladimir Kush

12 comentários:

chica disse...

Infelizmente a violência está solta por todos os lados e a insegurança se mostra... Belo texto! abraços,chica

wcastanheira disse...

POde ser q seja um conto, pode ser q seja vida, de todo modo vc foi muito incisiva e retratou a verdae em q vivemos, violencia gratuira contra as pessoas, pra vc bjos, bjos e bjo0ssssssssssssss

mfc disse...

A imagem é fantástica e a alegoria do conto não é mais que o retrato de uma realidade presente!

americano disse...

obrigada pela visita no meu blog bjinhos

Lilá(s) disse...

A violência anda por aí, mesmo com precaução somos apanhados...
Bjs

Zé Carlos disse...

Cristiane, te cuide sempre, vc está no âmago da bandidagem.
Beijão do ZC

A.S. disse...

Cristiane,

Por vezes a vida surpreende-nos!


Beijos!
AL

Lena disse...

Oi, Chris
Vim retribuir sua carinhosa visita ao meu blog e pronto: me apaixonei pelo seu cantinho também. Já estou te seguindo. Agora uma persegue a outra...rsrsrs..
Voltarei para curtir o blog com mais calma. Bjkas com muito carinho.

A.S. disse...

Cristiane,

Estamos num processo de uma completa degradação social. Evidentemente que neste contexto, a violência é uma das suas mais graves consequências.


Beijos!
AL

chica disse...

Volto pra te agradecer o carinho por lá e desejar um lindo fds! beijos,chica

Zé Carlos disse...

Oi menininha, meu comentário de ontem desapareceu deste post, devo ter aprontado alguma quando postei.

Obrigadão pelas visitas, boa festança de sexta-feira e um maravilhoso final de semana como vc merece....

Beijão do Zé Carlos

Unknown disse...

A violência ainda se mostra presente nos corações desse mundo, infelizmente é a triste realidade.
Maravilhoso texto Christiane...

Uma linda semana pra ti

bjs

Livinha