terça-feira, 26 de abril de 2011

Cristina




Cristina sempre teve vontade de pintar os cabelos, mas tinha medo de que o resultado não agradasse as amigas, e sua mãe não aprovava a idéia. Cristina sempre teve muito medo do que os outros poderiam pensar a seu respeito, e por isso não ia a muitas festas. Era moça solteira, de boa idade e direita, e moças direitas não saíam por aí se exibindo em festas na companhia de qualquer um, pelo menos esse é o pensamento dos mais velhos em Cidadezinhas do sertão Paraibano onde Cristina nasceu e foi criada. Uma vez ela até teve um namorado, mas falavam horrores sobre ele. Diziam que depois da meia-noite o que se via sair da janela do seu quarto era fumaça, e que os olhos dele eram vermelhos, falava bobagens e ria muito. A avó de Cristina dizia que fumaça de cheiro esquisito como aquela era coisa do capeta e se ajuntar com o capeta certamente não era boa coisa. E por respeito aos mais velhos, Cristina abandonou a idéia do namoro que já tinha até pretensão de ser noivado. E Cristina era moça que sabia respeitar. Respeitava pai, mãe, tios, o pastor, e não cobiçava primos. Cristina respeitava tanto que uma vez até tentou trabalhar fora, mas seu tio disse que quem trabalha fora é mulher da vida e que moça de família tem mais é que casar e tomar conta da casa, do marido e dos filhos, e por respeito ao tio e temendo que a família implicasse, ela desistiu mais uma vez. Cristina respeitava e desistia, desejava e acatava ordens, assumia e esmorecia e fingia que estava tudo bem. E assim foi murchando a pobre Cristina. Porque o medo de assumir quem somos, o que sentimos e queremos faz da gente uma planta murcha que definha a cada dia, a cada não, a cada olhar de desaprovação. E assim Cristina murchou, secou, sumiu e desejou só mais uma vez ter o poder de voltar no tempo e ter pintado os cabelos da cor que queria, ter ido a festas na companhia de moças depravadas, mas alegres e ter enfrentado o trabalho que lhe ofereceram como operadora de caixa de um supermercado. E o que mais a entristecia era não ter casado com o rapaz que gostava de fumaça durante a meia-noite, porque agora era como fumaça que ela desaparecia.
                                                                                                    
                                                                                                                               Imagem de Salvador Dali

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Páscoa



Este é o mês dos ovos, do coelho e de abraços fraternos. Nada contra fraternidade, coelhos ou ovos, que por sinal são uma delícia. Mas nunca consigo esconder totalmente minha falta de interesse pelos discursos que são feitos nessa época. A maioria deles simplesmente não me convence.

É muita proposta de amor e pouca atitude amável. Muito chocolate e nenhuma mão estendida. Abundancia de palavras e escassez de perdão. E tudo isso causa náusea...  Parece que tudo pode ser comprado, que todos têm seu preço e esse comércio de objetos e de almas acaba roubando o real significado de datas como esta.

Certa vez aprendi que páscoa é a época em que celebro a morte de Jesus por mim. Mas, além disso, compreendi que eu também morri com Jesus e que morrer por Ele e para Ele é lucro, pois agora posso ser verdadeiramente livre com Cristo, já que um morto não deve nada a ninguém e ninguém deve nada a alguém que já morreu. É nessa liberdade que quero viver, pois morrendo eu, morre também meus caprichos, meu ódio, meu egoísmo e minha culpa.

  É dessa forma que eu desejo uma boa páscoa a todos vocês. 

Que Cada um morra em Cristo e morra em vocês toda maldade e todo medo, e ressuscitem  nEle em  novidade de vida e transformação de mentes, para que uma páscoa assim aconteça diariamente em cada coração e dê sentido as nossas celebrações.

Boa Páscoa. 
                                                                             Última Ceia - Salvador Dalí

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A excelência de Cristo



A páscoa é ( ou deveria ser ) uma época de reflexão, e por falar em reflexão lembrei de uma que escreví há algum tempo.

Lá vai...


“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”
Cristo para mim não é apenas a luz no fim do túnel. Não, Ele é a luz que está desde o começo, que nos guia e nos ajuda a atravessar esse imenso túnel escuro que é a nossa existência nessa terra.
Ele é a essência da verdadeira paz e felicidade.

É o sol que continua a brilhar nos dias de chuva, ainda que as nuvens escuras do sofrimento nos impeçam por alguns instantes de vê-lo.

É o abrigo nos dias de tempestade.

É o cais de porto onde podemos embarcar em segurança.

A mão invisível que nos levanta quando estamos caídos.
A certeza de que a oração silenciosa do nosso coração será ouvida.

A fé que nos leva a crer que nossas lágrimas não serão em vão.

É a força do fraco... A coragem do valente.

A esperança dos desesperados... A liberdade do cativo.

A inocência no sorriso da criança... A nostalgia no olhar do idoso.

É o amor que arde em nossos corações e nos impulsiona a escolher o bem.

É a beleza de toda a criação que irradia a glória de Deus.

Ele é tudo em todos, e o seu Espírito em todos opera conforme a vontade daquele que nos criou.


Fiquem em paz. 
                                                                  Imagem: O Cristo de Salvador Dali

terça-feira, 19 de abril de 2011

Uma dose de verdade



Estou cansada de tudo o que se diz ser e não é
Quero um pouco de verdade, uma dose de melancolia
Servida num copo de conhaque
Com muito gelo e suor.

Quero uma casinha branca num tom de alegria
Um pé de laranja-lima no quintal
E pequenos que me chamam
E na trilha, um reggae pra animar o dia.

Quero um corpo malhado me roçando
Quero um beijo molhado, uma mão forte
Quero um toque.
O que eu quero mesmo é sexo na carência desse dia.

                                                                                                     pintura de João Barcelos




                                                                                               

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A arte e algumas dores




De saia branca e rodada
Colar de búzios no pescoço,
Dava forma ao barro que trazia nas mãos
E despia a alma perante o sol que a contemplava em silencio.

Com os pés no chão e o coração nas nuvens
E dos olhos negros, a lágrima
Há muito contida, agora rolava
Sob a pele seca e triste.

Um sonho, uma angústia, um segredo,
E as mãos carregando o barro que agora é vaso.
Uma flor no cabelo e um sorriso forçado,
E no coração um desejo:
Ser feliz.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Todo dia é dia de Maria




"Mulher forte e que não demonstra timidez diante da vida. Que entre latas d’água na cabeça e bacias cheias de milho, sempre encontrou tempo e disposição pra um sorriso e um carinho. E mesmo abatida pelo cansaço, a pobreza e a fome de afeto, nunca deixou de lado a bondade, a alegria e a honestidade que transmite a todos que cruzam seu caminho. Beleza nunca lhe faltou, nem no corpo nem no espírito. Esta é Maria, a minha Maria, que não se abala facilmente e nem desiste no meio do caminho. Que não se deslumbra e nem perde a fé. Que se esquenta sim e não deixa pra tirar satisfações fora de tempo, mas sem perder a doçura que carrega no olhar. Que Deus te conserve assim, Maria e que um dia eu consiga ser tão divinamente humana quanto tu. Sei que hoje não é dia das mães e nem teu aniversário, mas todos os dias são dias de mulheres como tu, que não deixa a vida passar em branco e nem espera que alguém morra pra então demonstrar amizade e gratidão. Tu és a minha inspiração pra continuar vivendo e lutando pelo que acredito, e dizer que te amo não é preciso, posto que sem ti eu nem saberia o que é amar".


... Gosto de ler, pensar e escrever, por isso estou criando este blog, pra desenvolver idéias, me conhecer melhor e vê no que isso vai dar. Sintam-se em casa e longa vida ao Christiane...